Desigualdade salarial de género: uma realidade ainda distante para muitas mulheres em Portugal
- Patrícia Rosas
- há 6 dias
- 4 min de leitura

Em pleno século XXI, o princípio do salário igual para trabalho igual continua longe de ser plenamente cumprido. Em média, na União Europeia, as mulheres ganham 13% menos do que os homens por hora de trabalho, segundo dados recentes divulgados pelo Parlamento Europeu em Portugal através do Instagram oficial @parl.europeuportugal.
Na prática, isso significa que por cada 100€ que um homem recebe, uma mulher recebe apenas 87€. Essa desigualdade afeta milhões de mulheres em toda a Europa — e Portugal, embora com indicadores ligeiramente melhores do que a média europeia, também enfrenta este desafio.
Portugal e a desigualdade salarial de género
De acordo com o Eurostat (dados de 2023), em Portugal, as mulheres recebem, em média, 91,1% dos salários dos homens. Isso representa uma diferença salarial de cerca de 8,9% — ou seja, uma mulher portuguesa recebe, por hora, menos 9 cêntimos por cada euro ganho por um homem.
Ainda que esse valor esteja abaixo da média da UE, Portugal mantém-se longe da igualdade plena. A realidade portuguesa reflete um padrão comum: a desigualdade salarial não é apenas uma questão de euros e cêntimos — é um reflexo de desigualdades estruturais no acesso a oportunidades, cargos de liderança e valorização profissional.
📌 Segundo a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), a diferença salarial em Portugal é ainda mais acentuada em setores como:
Indústrias transformadoras;
Serviços financeiros e seguros;
Atividades de saúde e apoio social.
Nesses setores, as diferenças ultrapassam os 20% em alguns casos, especialmente nos cargos mais elevados.
O que explica essa desigualdade?
O Parlamento Europeu identifica três fatores centrais para a disparidade salarial entre mulheres e homens:
1. Mais pausas na carreira entre mulheres
As mulheres continuam a ser as principais cuidadoras — quer de filhos, quer de familiares idosos. Por isso, muitas pausam ou abrandam a sua carreira, afetando a progressão profissional e os aumentos salariais. Em Portugal, esta realidade é particularmente visível: segundo o INE, mais de 90% das licenças parentais continuam a ser gozadas por mulheres.
2. Maior presença em setores menos valorizados
As mulheres estão concentradas em áreas como educação, saúde e cuidados — setores essenciais, mas tradicionalmente mal remunerados. No ensino, por exemplo, as mulheres representam mais de 70% do total de professores, mas ganham menos do que os colegas homens em cargos de direção ou gestão.
3. Sub-representação em cargos de topo
Em Portugal, as mulheres continuam a ocupar menos cargos de chefia e liderança nas empresas. De acordo com a CITE, apenas 21% dos cargos de administração nas maiores empresas portuguesas são ocupados por mulheres.
O que está a fazer o Parlamento Europeu?
O Parlamento Europeu aprovou novas medidas para enfrentar esta desigualdade, e está a pressionar os Estados-Membros — incluindo Portugal — a agir com mais firmeza:
Regras de transparência salarial
Uma nova diretiva aprovada em 2023 vai obrigar empresas com mais de 100 trabalhadores a divulgar dados salariais por género. As regras incluem:
Proibição de cláusulas de confidencialidade salarial;
Direito dos trabalhadores a saber a média salarial de colegas em funções semelhantes;
Empresas com diferenças injustificadas superiores a 5% terão de corrigir a situação.
Estas regras terão de ser aplicadas em todos os Estados-Membros até junho de 2026, incluindo Portugal (Fonte: Parlamento Europeu).
🎯 Objetivo: mais mulheres na liderança
O Parlamento também quer garantir maior representatividade feminina nos cargos de direção. A meta definida é:
40% de mulheres nos conselhos de administração não executivos ou
33% de mulheres em todos os cargos de direção em grandes empresas até 2026.
🇵🇹 Portugal está preparado?
Portugal tem feito progressos, mas ainda enfrenta grandes desafios. Apesar da evolução na legislação e maior sensibilização social, a implementação prática da igualdade salarial ainda depende de mudanças profundas nas culturas organizacionais, políticas públicas mais eficazes e maior responsabilização das empresas.
O governo português já anunciou medidas alinhadas com as diretrizes europeias, como o regime de igualdade remuneratória (Lei n.º 60/2018), mas o impacto ainda é limitado. Muitos especialistas defendem que é necessária mais fiscalização, mais transparência e penalizações efetivas para empresas que persistem na desigualdade.
💬 Por que este tema importa?
A desigualdade salarial de género não é apenas uma injustiça com impacto direto no bolso das mulheres — ela perpetua ciclos de pobreza, afeta a reforma futura, limita a autonomia económica e reforça desigualdades sociais.
Corrigir essa disparidade é essencial para construir uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável. Não se trata de beneficiar um género em detrimento de outro, mas de garantir que talento, dedicação e competência sejam recompensados de forma justa — independentemente do sexo.
📢 O papel de todos nós
Como cidadãos, empresas e instituições, temos o dever de exigir e promover a igualdade salarial. Conversar sobre este tema, exigir transparência e apoiar políticas públicas com impacto real é uma forma de transformar o futuro — para mulheres, homens e toda a sociedade.
Para acompanhar mais campanhas e ações sobre igualdade de género, segue o @parl.europeuportugal no Instagram e acompanha as publicações oficiais do Parlamento Europeu.
🔗 Fonte oficial da União Europeia: https://europa.eu/!NB8bq9
📊 Dados estatísticos: Eurostat (2023), CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, INE (Portugal)
Kommentare